o sapo












à noite no lago o vento venta voa
balança a taboa como uma lança
voa. e nessa dança à proa
o sapo coxo coaxa
feito eco de racho de cabaça. o sapo
macho marcha estufa chama clama
(guturalmente)
pela murcha sapa que na greta da grés
rechaça (renitente) o ritual. e a manhã
renasce sem enlace sem graça
sem festa na gruta
que os ocultam
do sol.

calanguim



















...cala calango, cala...

já que leu meu pensamento
não entregue minha fala
que eu não te levo na mala
nem a troco de oferenda
seja flor de qualquer senda
e assim firmamos um trato

as paredes tem ouvidos
toda alma tem sua fenda
por onde a lágrima brota
grita, cisca, vaza, molha
seja em véu de cachoeira
seja em lento conta gotas

ROGÉRIO SANTOS

(mais do grande poeta e compositor em
http://folhadecima.blogspot.com/)
rente ao gramado
podado
(no final da tarde)

enquanto formigas
cortadeiras
se preparam para o inverno

decido-me ser só
uma cigarra
muda.

xô, urubu!















abominável abutre:
ave de rapina
ave carniceira
ave de mau agouro
do velho e novo mundo:
superstição universal!

de grande envergadura
de cabeça pelada
de andar desengonçado
e visão quilométrica:
é um lixeiro-alado
de vôo circundante
buscando “novas” carniças
em novos horizontes.

sempre em bandos
crocitando
aterrissa (aterrorizando a vista)
em matadouros, cortumes
e ao redor das latas de lixo
nos arredores das cidades.

brasileiro: é urubu
na gíria: trapaceiro
de cabeça colorida: é rei
de cabeça vermelha: campeiro
de cabeça amarela: jereba
profissão: lixeiro, naturalmente
mas sorrateiro: é “de morte”:
pousa, às vezes, inesperadamente
no jardim de nossa sorte!