cascavel



entremeando o ambiente
árido
arrasta-se sem pecado
a cascavel
                     sibila
                     chocalha
avisa a vítima (a presa)
do perigo
mesmo assim a surpreende
em mortal destreza

dia da árvore

o homem mata
quando desmata
a mata.

mas se mata a mata
quando desmata
por que continua desmatando a mata
se sabe que a mata?

e até quando irá matar
desmatando
se a mata morta
irá matá-lo
por não haver mais mata
a desmatar?

fish




Rá, o deus Sol egípcio, com uma máscara na cara,
cruzando o Tietê em seu barco,
remando desesperadamente entre dejetos,
espumas e garrafas plásticas...
(nem o Salvador (Dali) imaginou
tamanha surrealidade).

trama alimentar


a semente germina
magicamente
resgata do chão
a vida decomposta
e se posta altiva
auto produtiva
numa verde plantação
mas suas espigas arranca
com incisivos cortantes
um roedor incauto
saciando o desejo
da fome constante
sem perceber
que à dois metros distante
um ofídio espreita
a cumprir seu ofício
de carnívoro voraz
mas rastejando de volta
farto e satisfeito
não observa do alto
em asas montado
rapinante predador
que retornando ao ninho
com a presa nas garras
devolverá à terra
em seu devido tempo
o elemento preciso
à um outro vegetal.

dia do biólogo


um projeto nas mãos
e os pés na estrada
sobrepondo as pedras do caminho
ultrapassando fronteiras
recriando esperanças
guardando nos limites a tolerância

botas, sacolas, puçás
caderno, cantil, gravador
seca e chuva, frio e calor
termômetro medindo a ansiedade

a noite na mata
a pressa pela procura da presa:
o “predador” ecológico
preservando a caça
a raça de quem acredita na razão
a perfeição darwinianamente traçada

a casa em relações (des)harmônicas
num interrelacionamento trófico
vibra, pulsa, interage

bichos, ritos, nichos
flores, cores, odores
sons que surgem
sons que emudecem
a vida que brota e fenece
ciclicamente no meio do ambiente:
ecos de pura logia!

mirmex
















formica fornica formiga
trabalha trabalha trabalha
carrega o fardo do dia
estoca o peso do fardo
zela o custo do peso
protege a vida: vigia
dia e noite dia-a-dia

não canta não planta não casa
cava a terra a casa cava:
galerias/formigueiro:
anárquica aparência
sociedade socialista
monarquia absoluta

branca preta miúda
vermelha grande saúva
sobre o chão
sobre a pedra
sobre a árvore:
sobrevive sobreguarda interage

formicário formigueiro
formiga o mundo inteiro
terror de picnic’s
ladrão de açucareiro